O Homem no Seu Berço Natal
de João França
de João França
Temporada artística
1994
Encenação
Eduardo Luíz
INTÉRPRETES
Élvio Camacho
Miguel Vieira
Patrícia Perneta
Duarte Rodrigues
António Plácido
Magda da Paixão
António Ascensão
Ficha Artística e Técnica
O Homem no Seu Berço Natal | dramatização do primeiro quadro da peça de João França: “Baltazar Dias”
Direcção do Espectáculo | Eduardo Luíz
Idealização Cénica e Figurinos | Margarida Lemos Gomes e Miguel Vieira
Encenação e Direcção Artística | Eduardo Luíz e António Plácido
Assistente de Encenação | Duarte Rodrigues
Sonoplastia | Henrique Vieira
Luminotecnia | Hélder Martins
Ajudante de Electricista | David Ferreira
Texto do Encenador
Na forma de teatro, ao qual o poeta madeirense dedicou seu modo de vida, aparece agora, e pela primeira vez, quer no continente, quer na ilha, uma prestação de homenagem à memória de Baltazar Dias, dito cego e nascido nas terras de Santana. Muita coisa dele se tem escrito, felizmente, mas pouco se sabe da sua pessoa. Até podíamos dizer que a sua obra – autos, romances, trovas – lhe justifica a presença viva no continente, dado que dela não há rasto na Madeira.
O escritor e nosso ilustre conterrâneo Alberto Figueira Gomes, investigador entusiasta da figura e obra de Baltazar Dias, e a quem a esse respeito muito ficamos a dever, teve a amabilidade de ler este nosso original e de nos dar, por escrito, duas palavras amigas, sim, mas com a sinceridade e consciência que o caracterizam. E porque são elucidativas, aqui ficam:
“Sobremodo, para quem, como a maioria dos nossos conterrâneos, só conhece de Baltazar Dias o nome, porque a edilidade com ele crismou o nosso teatro, a sua peça, João França, é uma lição – até de regionalismo. Foi árduo o seu trabalho: desenhar o carácter de um homem, que nunca se confessa na sua obra; aproveitar três linhas da sua biografia e ver para além delas; colocá-lo no lugar e na época com traços e cores naturais.
Deste seu trabalho relevo, em primeiro lugar, o cuidado, o zelo que lhe mereceu o desenho do carácter do poeta cego. Modelar. Evidentemente sé era possível desenhar esse carácter, lendo a sua obra: de nenhum outro documento era possível retirar algo.
O seu Baltazar deve estar muito conforme o Baltazar de 1520-1580. Humilde, paciente, tolerante, moralista, juíz dos maus costumes, fiel defensor da ortodoxia, exaltar das manifestações de fé e de piedade.”
Assim julgamos haver adivinhando o nosso poeta carecido de vista e também imaginá-lo no Funchal e nessa possível actuação no terreiro da Sé.