Madeira, Mydear – Furnasbook ou Aipodemos
a partir de Ernesto Leal
a partir de Ernesto Leal
Temporada artística
2011/2012
Encenação
Élvio Camacho
INTÉRPRETES E PERSONAGENS
Apenas no palco:
Élvio Camacho | Simplório Vilão
Patrícia Perneta | Simplória Viloa
Apenas no filme:
Ana Graça | Arquivadora Perdida
Avelina Macedo | Tasqueira Perdida
Cristina Loja | Patinadora Perdida
Décia Isabel | Estagiária Encontrada
Daniel Nascimento | Motoqueiro Perdido
Eduardo Luíz | Amante Perdido
Hélder Martins | Aspirador Encontrado
Magda Paixão | Estaticista Perdida
Maria José | Bambiarra Encontrada
Mário Rodrigues | Fã Perdido
Paula Erra | Amante Perdida
Ficha Artística e Técnica
Texto | a partir de Ernesto Leal
Encenação e Dramaturgia | Élvio Camacho
Artesão do Boi | José Manuel
Apoio Geral | Equipa Base do TEF
Design Gráfico | Dupla DP & Associados S.A.
Frente de Casa e Bilheteira | TEF
Fotografia do Cartaz | Célia do Carmo
Neste espectáculo, são utilizados e, ou, parafraseados breves trechos musicais dos seguintes álbuns ou artistas:
– João Victor Costa, Obras para Piano, por Robert Andres, as obras Variação V e Variação IV (de Oito Variações Sobre o Tema “Bailinho da Madeira”) e por Robert Andres e Honor O’Hea, a obra Variações Sobre o Tema “O Xaramba”, numa edição Numérica (2008);
– Braguinha – Music and Musical Instruments of Madeira, por Danilo fernandes, a obra Calcinha, numa edição Pan Records (1996);
– O Baile da Camacha – A Origem e a História, por Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha, a obra Baile “Alla Moda”, numa edição Tradisom Produções Culturais (2008);
– Ai Bate o Pé, por Max;
– Terry’s Theme, por Charlie Chaplin, orquestrado por Fernando Almeida, e interpretado por Paula Erra, com letra de João de Barros, numa versão para o espectáculo do TEF, Strip II (2008);
– Saturnalia, por Deutsche Bläserphilharmonie & Walter Ratzek, a obra The Age of Aquarius, numa composição de Bert Appermont, numa edição Beriato Music(2007);
– Antologia Tradicional da Música da Madeira, por Almma e AA.VV., as obras Cantiga da Carga, Quadrilha n.º 3 e Charamba do Vieirinha, numa edição Almasud (1998);
– At the Drop of a Hat, (1959), por Michael Flanders e Donald Swann, a obra Madeira M’Dear, numa edição EMI Records LTD (1991);
– At the Drop of a Hat, (1959), por Michael Flanders e Donald Swann, a obra The Hippopotamus Song, numa edição EMI Records LTD (1991);
– Blue Suitcase, por Peter Ecklund, a obra Old Madeira Waltz, numa edição Peter Ecklund (2010);
– Piano Music of Halim El-Dabh, por Halim El-Dabh, a obra On The Shores of Madeira, numa edição Halim El-Dabh Music LCC (2009);
– 100 Folks Classics – History of Folk, por Kingston Trio, a obra The Wines Of Madeira, numa edição Classic Music international (2010);
– Right from the Start, por The Limeliters, a obra Have Some Madeira M’Dear, numa edição Spa Creek Music (2007);
– {Combinations}, por Chuck Mitchell, a obra Have Some Madeira M’Dear, numa edição Strider (2008);
– New Orleans Jazz (Wilbur DeParis And His ‘New’ New Orleans Jazz Band – Wilbur DeParis Plays Something Old, New, Gay, Blue), por Wilbur DeParis e ‘New’ New Orleans Jazz Band, a obra Madeira, numa edição Makin Friends Records (2010);
– Judas, por Lady GaGa, o ‘single’ Judas, de Lady GaGa & Red One, numa edição Interscope Records (2011).
Utilização/adaptação de figurinos e adereços, de anteriores produções do TEF.
Texto do Encenador
Como uma Esquadra de Navegação Terrestre…
«(…) Cheira a terra molhada.
(…) Cheira a fetos.
(…) Cheira a cera.
(…) Cheira a santa.
(….) Cheira a suor.
(…) Cheira a Poncha.
Sobe a névoa.
Cheira a milho.»*
Fazemos teatro desta forma: com o sentido de ócio das curiosas esquadras de navegação terrestre que existiram outrora na Madeira. Temos todas as patentes dentro de nós, somos alvos (e temos alvos) a atingir com humor e alguma ofensiva disciplina. Temos fardamentos mil, fragatas, corvetas e torpedeiros. E neste espectáculo saímos e entramos nas furnas para criarmos poios e avançarmos, por entre as bananeiras e canaviais, ao ataque de anononeiras que nos dão o pudim da natureza, como nos lembra Ernesto Leal. Queremos as pipas à nossa e à vossa disposição. Ernesto, com a sua escrita de tufão que percorreu o mundo, é nítido nos detalhes e tão leal ao que nos oferece de memória da sua terra natal – Ilha da Madeira. Há um livro, Tio, Ilha, Anonas e Estrelas**, uma selecção e organização de textos de Ernesto Leal feito e prefaciado por António Fournier, publicado pela Funchal 500 Anos, que é parte***, essencial, desta nova aventura do TEF. Recomendo-o porque é dum dos Madeirenses, é das nossas vidas, fala de nós, comove-nos e fala-nos dum rapazito ansioso, dum boi (tourão), de viagens, de maçarocas de milho, de canas-de-açúcar, de bananeiras, da rádio, dum homem que come névoa, de estrelas, que são, como diria Thornton Wilder, na peça A Nossa Cidade, “velhas de séculos no céu”, ou como nos lembra Eça de Queiroz, no final dum dos meus contos predilectos, Adão e Eva no Paraíso, que “nem decerto nos amam – nem talvez nos conhecem”. Estamos certos que a sua escrita conhece uma grande parte de nós. Voltámos a uma parelha de actores, depois de em 2000, sentados em cima de máquinas de veneno, termos feito A’Rosas Suicidam-se, de Ramón Gómez de la Serna e de, em 2002, sentados frente a um bazar num arraial, Mééééé… Tudo é Como é, a partir de Alberto Caeiro e Fernando Pessoa. Uma parelha que quer celebrar a Madeira como Michael Flanders e Donald Swann a festivaram, sobre o vinho, com o tema musical Madeira, M’Dear nos anos 50. O nosso mastro está erguido. Contamos com o público para esta batalha, e que do Pilar de Banger nos orientem por entre as veredas. Dedicamos este espectáculo a António Fournier, Carlos Nogueira Fino, Constantino Lopes Palma, Graça Alves, Irene Lucília, José Agostinho Baptista, José António Gonçalves, José Viale Moutinho, José Tolentino Mendonça, Nelsón Veríssimo e Margarida Falcão de universais que são e por saberem, de distintas e belas maneiras, nos deixar «(…) quase em lágrimas a escutar a humanidade e as estrelas»*. Ao contrário da locução latina si vis pacem, para bellum (se queres a paz, prepara-te para a guerra) gostamos da fantasia de querermos a guerra que nos prepare para a paz. Estepuilha! Como num ‘aipad’, nós ‘aipodemos’, o ‘furnasbook’ inventamos e na terra navegamos.
P.S.0: faremos mais 120 criações do TEF para as dedicarmos (com sentido de dádiva) a quem ainda o não fizemos (e são tantos os que o merecem).
P.S.1: o nosso abraço e especial agradecimento a António Fournier, por, entre outras razões, ter sido o coordenador do precioso número 22 da revista Margem 2, de Outubro de 2007, inteiramente dedicado a Ernesto Leal. Sem o contributo de todo o rico material nela compilado este espectáculo era menos Ernesto.
P.S.2: tivemos pudor, mas era para termos escrito isto como se fosse uma carta para ti: Querido Ernesto Leal, o cheiro a milhinho frito há-de chegar até aí, ao teu «coração de eterno e derretido madeirense» como escreveste numa carta para a tua irmã Dulce, e havemos de o fritarar neste espectáculo e numa rua com o teu nome onde nascerás para a infância da humanidade…
* LEAL, Ernesto (2008), Tio, Ilha Anonas e Estrelas. Funchal: Empresa Municipal Funchal 500 Anos, 66-67.
** Este livro está disponível, em versão digital (só leitura), no sítio www.funchal500anos.com.
*** Selecionámos, com intervenção dramatúrgica, os seguintes contos, apresentados no espectáculo, respectivamente: O Homem que Comia Névoa, Tio, Ilha Anonas e Estrelas e O Boi.
Sinopse
«(…) Cai a água. Parte-se ali um pico,
rola um penedo que esmaga com um baque surdo uma velha,
um miúdo ou um galo. Um vilão traz um boi.
(…) Rola o Penedo: quem morre, morre(…).»*
Uma enxerga, um mastro sinaleiro, dois ipads nas mesas de cabeceiras, uma ilha e dois actores navegam basalto abaixo e acima desde a sua furna. Fazem o amor debaixo da bebereira, mas perto do raio da tabaibeira. Ela tem uma paixão por ele, mas este tem-na também pelo boi. A sua amada doutros tempos arranjou um homem dos teatros. Gostam do clube dos cornos e da cerveja que lhes sabe a terra. Os caixões da venda do Pica-Malhetes, enquanto esperam por eles, vão secando as castanhas, mas a ilha é o palácio deles onde comem pão com mel de cana. Falta-lhes um cálice para um vinho Madeira e na terra só faltam asas ao boi.
* LEAL, Ernesto (2008), Tio, Ilha Anonas e Estrelas. Funchal: Empresa Municipal Funchal 500 Anos, 66.
AGRADECIMENTOS
Um agradecimento ao músico Roberto Moniz.
Um agradecimento muito especial a todos os que contribuíram para que este espectáculo se realizasse e cujos nomes não vêm aqui mencionados.